Por
Lorena Brum
As
onomatopeias estão em alta entre as músicas do século XXI. Quando
Michel Teló estourou nas paradas de sucesso com “Ai, se eu te
pego”, um turbilhão de críticos da música nacional se
mobilizaram para ridicularizar o intérprete da canção pela
'pobreza' da letra. Nas redes sociais, usuários criaram charges, que
se espalharam por milhares de pessoas, que faziam comparações entre
a década de 60 e os dias de hoje: enquanto uma garota jovem e bonita
daquele tempo era flertada com os versos de “Garota de Ipanema”,
de Vinícius de Moraes, às belas moças de hoje só resta se
contentar com um “Ai, se eu te pego”. Mas o tempo mostrou que
essa perseguição é injusta. Se comparar as canções antigas com
os sucessos mais recentes do sertanejo universitário que bombou na
internet e trouxe de volta a moda dos refrãos repetitivos de
onomatopeias, Michel Teló se tornou o poeta mais bem recompensado de
sua geração.
As
construções sintáticas mais complexas da gramática, como “Sábado,
na balada, a galera começou a dançar [...]”, viraram coisa rara
entre os hits brasileiros. Agora, as mulheres bonitas correm o risco
de ouvir não só o “Ai, se eu te pego”, mas o derivado mais
direto “Ai, ai! Ai, ai, ai, ai! Assim você mata o papai”, do
grupo Sorriso Maroto. Porém, se o tal rapaz for ainda mais ousado, é
bem provável que ele vá chamá-la logo para o “lê lê lê”, o
“tcherere tchê tchê” ou “tchu tchá tchá” - que não são
palavras nenhuma, e nem querem dizer nada, mas são ruídos bucais
que, acompanhados de uma 'boa' coreografia de quadris, não deixam
dúvidas do sentido de tal intenção. Não adianta fugir da
realidade. Nas pistas de dança, nas telas da TV, não há quem
consiga evitar o gênero ao inédito “Oi oi oi”, da dança
angolana Kuduro, que voltou a mil por hora na novela Avenida Brasil,
da Rede Globo.
Agora,
os intérpretes de “Eu quero tchu, eu quero tchá”, os sertanejos
João Lucas e Marcelo, tem sido os mais beneficiados pelo fenômeno
da onomatopeia. O hit encantou o jogador Neymar, que até criou uma
dancinha futebolística para comemorar seus gols, e chegou a
participar de um clipe com a dupla. A exaustiva repetição do refrão
levou a música ao primeiro lugar na lista de downloads do iTunes no
Brasil.
Conheça
os refrãos mais pegajosos da música brasileira, da década de 1940
aos dias de hoje:
“O
meu ganzá faz chica chica boom chic p'ra eu cantar o chica chica
boom chic”
CHICA
CHICA BOOM CHIC – Carmen Miranda – 1941
“Bim
bom bim bim bom bom. É só isso o meu baião e não tem mais nada
não”
BIM
BOM – João Gilberto – 1958
“Tetê
tê tê, têtêretê, tê tê, têtêretê, tê, tê, têtêretê, tê
tê...”
TAJ
MAHAL – Jorge bem – 1972
“Segura
o tchan, amarra o tchan, segura o tchan ,tchan ,tchan, tchan, tchan”
MELÔ
DO TCHAN – Gera Samba – 1995
“Aê,
aê, aê, aê, êh, êh, êh, êh, ô, ô, ô, ô, ô”
PREFIXO
DE VERÃO – Netinho – 1996
“Bom,
xibom, xibom, bombom”
XIBOM
BOM – As meninas – 1999
“Créu,
créu, créu, créu, créu...”
DANÇA
DO CRÉU – MC Créu – 2008
“Mas
acontece que eu sorri para ti, e aí, larari, larari, pom, pom, pom”
SE
EU SOUBESSE - Chico Buarque – 2011
“Tchê
tcherere tchê tchê, tcherere, tchê tchê, tcherere tchê tchê,
tchereretchê, tchê, tchê, tchê, Gustavo Lima e você”
BALADA
BOA – Gustavo Lima – 2012
“Oi,
oi, oi, oi, oi, oi, vem pra quebrar com tudo, vamos dançar com
tudo.”
VEM
DANÇAR COM TUDO – ( Versão) Robson Moura e Lino Krizz - 2012
“Sou
simples mas eu garanto, sei fazer o lê lê lê, lê lê lê”
LÊ
LÊ LÊ – João Neto e Frederico - 2012
“Ai,
ai! Ai, ai, ai, ai, assim você mata o papai”
ASSIM
VOCÊ MATA O PAPAI – Sorriso Maroto – 2012
“eu
quero tchu, eu quero tchá. Eu quero tchu tchá tchá tchu tchu tchá”
EU
QUERO TCHU, EU QUERO TCHÁ – João lucas e Marcelo - 2012